domingo, 14 de setembro de 2008
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
Entrevista com ANA MARIA MACHADO
1. Quando você era criança, já sonhava em ser escritora?
Não. Sonhava em ser artista de cinema, mas achava que ia mesmo era ser professora. Estudei para isso. E fui professora por um bom tempo. Só depois é que descobri que era escritora. Mas sempre gostei de escrever. Fazia diário, escrevia muitas cartas, fazia parte da equipe do jornalzinho da escola, essas coisas…
2. De onde você tira as idéias para os seus livros?
Da cabeça, como todo mundo. O importante não é isso, é como elas entram na cabeça. Acho que um livro começa muito antes da hora em que a gente senta para escrever. É um jeito de prestar atenção no mundo, em todas as coisas, nas pessoas, e ficar pensando sobre tudo…
3. Quais são os seus temas favoritos?
Os críticos em geral dizem que eu escrevo com uma visão crítica, sobre temas como a rebeldia, o combate ao autoritarismo, a ética, a fome de justiça… Mas do meu ponto de vista não é bem assim: eu acho que cada vez estou querendo contar uma história diferente, acontecida comigo mesma ou com gente que eu conheço, e transformada pelas coisas que eu sonho ou imagino a partir daí.
4. Qual o ponto de partida para o que você escreve?
Do meu ponto de vista, eu escrevo sempre a partir de duas coisas: o que eu lembro e o que eu invento. Memória e imaginação são as duas grandes fontes do que eu faço.
5. Como é que você escolhe seus ilustradores?
Muitas vezes quem escolhe não sou eu, são os editores. Mas alguns aceitam que eu dê palpites. Nesse caso, eu tento escolher aqueles com quem eu tenho mais afinidade, ou cujo trabalho eu admiro, e que sejam bons de trabalhar. Quer dizer, conversem comigo, leiam o livro com atenção, se disponham a trocar idéias e cumprir prazos.
6. Você também é pintora. Por que nunca ilustrou um livro seu?
Porque eu acho que pintura e ilustração são duas coisas completamente diferentes. Uma pintura tem apenas que resolver problemas visuais que ela mesma inventa a cada vez. Uma ilustração, como o nome está dizendo, tem que dar um lustre, um brilho, lançar uma luz sobre algo que está escrito. Tem que ser narrativa também. E o tipo de pintura que eu faço não é narrativo. Acho muito mais difícil ilustrar do que pintar, e eu não tenho capacidade para isso.
7. Que mensagem você gostaria de mandar para seus leitores?
Antigamente eu dizia que quem tem que mandar mensagem é telegrafista. Hoje diria que é a Internet. Um escritor não tem que se preocupar com mensagens. Tem que contar uma boa história, de uma maneira interessante, com surpresas de linguagem, e criar um livro que divirta, faça pensar e fique na lembrança do leitor de alguma maneira, dando vontade de reler ou relembrar de vez em quando.
8. O que a levou a escrever para crianças?
Eu já escrevia para adultos e sabia que "tinha jeito" para escrever. Conhecia muito bem a língua (era professora de português), estava começando a trabalhar numa tese de doutorado sobre Guimarães Rosa. Quer dizer, língua e literatura eram meu elemento. Por que não para crianças também? Não vi nenhum motivo para excluí-las de minha preocupação estética com o uso da linguagem, terreno onde sempre me movi. Então somei, ampliei, e incluí a criança nessas minhas vivências da arte da palavra.
9. Como é a sua rotina de trabalho?
Escrevo o tempo todo, não só quando estou diante do papel ou do computador - esse é só o momento final, em que as palavras saem de mim e tomam forma exterior. A minha criação é assim, um processo meio mágico, que a gente não sabe de onde vêm nem como se desenrola. Procuro merecer, estar pronta, criar condições. Essas condições passam por trabalho e disciplina. Em geral, escrevo todo dia, sempre de manhã, quanto mais cedo melhor. Sem interrupções de fora. E com possibilidade de uma vista agradável, quando levanto os olhos da página.
10. Você foi uma das pioneiras, no Rio de Janeiro, na criação de uma livraria voltada para o público infanto-juvenil. O que aprendeu dessa experiência?
Criei a Malasartes em 1979 e vendi a minha parte em 1996. Durante esse período, descobri que acaba se tornando impossível tentar compatibilizar as duas coisas. Um escritor é um artista, tem que ser livre. Um livreiro é um comerciante, tem que dar sempre razão ao freguês.
11. Qual foi o primeiro livro que você escreveu?
O meu primeiro livro foi para adultos, em 1976 - Recado do Nome. Em 1977, veio o primeiro infantil, Bento-que-bento-é-o-frade, saído quase ao mesmo tempo que os três volumes das "Histórias de Recreio", reunindo alguns dos contos publicados na revista, sob os títulos Camilão, o Comilão, Severino Faz Chover e Currupaco Papaco. Hoje, novamente desmembrados nas doze histórias originais que constituem doze livros, eles estão sendo publicados pela Editora Salamandra, na Coleção Batutinha.
12. Seus livros foram traduzidos em diversos idiomas para vários países. Como ficam os valores e referências mais regionais, explorados por você nos textos, no caso dessas traduções?
Não sei bem. Toda tradução sempre perde muita coisa, por melhor que seja. Mas quando é boa, pode ganhar outras, por ser uma recriação. Alguns dos autores que mais me fascinaram na vida (de Cervantes a Garcia Marques, de Shakespeare a Camus) tinham valores regionais muito fortes, mas nem por isso deixaram de ser universais.
13. Dos livros que você escreveu, qual você gosta mais?
Taí uma coisa que não existe. Acho que livro é que nem filho, a gente gosta de todos igualmente com muita intensidade, mesmo sabendo que cada um tem características diferentes do outro.
14. Tem algum que você gosta menos, ou não gosta?
Já teve muitos, mas eu não publiquei. Para isso existe lata de lixo.
15. Qual o livro mais difícil que você já escreveu? E o mais fácil?
Na verdade não dá para responder objetivamente a essas duas perguntas. Depois que passa o momento de escrever o que fica é só a memória desse momento, que pode não corresponder a verdade. Eu lembro que um dos mais difíceis, entre os infantis, foi "Um Avião e uma Viola", que só tem uma linha por página. Os primeiros da série Mico Maneco também foram muito difíceis, por trabalharem com um repertório de sílabas muito limitado. Entre os de adulto, dois foram especialmente difíceis: "Tropical Sol da Liberdade", por ter me lançado numa profundidade de dor para a qual eu não estava preparada, e "E o Mar nunca Transborda", pelo intenso trabalho de pesquisa e recriação de linguagem que ele exigiu. Fácil, nenhum é.
16. Alguma história que você escreveu já aconteceu de verdade?
Quase todas. Mas sempre muito misturadas com outras que não aconteceram.
17. Qual a sua relação com a escritora Ruth Rocha?
Eu sou a mais velha de onze irmãos e acho que sempre quis ter uma irmã mais velha. Quando casei com o irmão da Ruth, compreendi que tinha ganho essa irmã tão desejada. Até hoje continuamos muito amigas e o fato de termos posteriormente começado a escrever na mesma revista só nos aproximou.
18. Como é a sua relação com seus pequenos ou grandes leitores?
Eu costumo dizer que o maior prêmio de um escritor é um bom leitor. Um leitor que entende, qualquer que seja a sua idade, é um presente. E quando ele entende, não confunde a relação com o livro e a relação com uma pessoa. Para mim, o importante é que meu leitor se aproxime do que eu escrevo, e não de mim. Muitas vezes a pessoa física do escritor pode atrapalhar o contato com a obra. Uma coisa que me preocupa muito nessa esfera é não ser injusta, não privilegiar um leitor em detrimento de outro. Se eu começar a conversar muito com um, como vou fazer para conversar igualmente com todos os outros? Só através do livro, que é justo e democrático. Mas adoro quando o leitor se manifesta.
19. Que tipo de livro você mais gosta de ler?
Qualquer livro bem escrito. Devoro romances e ensaios, leio e releio poesias.
20. Como você escolhe o título dos seus livros?
Quase sempre o título é a última coisa. Com muita freqüência o livro fica pronto e eu não sei como ele vai se chamar. Muitas vezes depois do título escolhido eu percebo que de alguma forma esse título já estava escondido dentro do livro, de tantas referências que havia pelo meio do texto. Mas não é uma coisa que eu tenha facilidade em decidir. Vivo me dizendo que um dia eu vou fazer um livro que tenha como título uma palavra só, mas nunca consegui.
1. Quando você era criança, já sonhava em ser escritora?
Não. Sonhava em ser artista de cinema, mas achava que ia mesmo era ser professora. Estudei para isso. E fui professora por um bom tempo. Só depois é que descobri que era escritora. Mas sempre gostei de escrever. Fazia diário, escrevia muitas cartas, fazia parte da equipe do jornalzinho da escola, essas coisas…
2. De onde você tira as idéias para os seus livros?
Da cabeça, como todo mundo. O importante não é isso, é como elas entram na cabeça. Acho que um livro começa muito antes da hora em que a gente senta para escrever. É um jeito de prestar atenção no mundo, em todas as coisas, nas pessoas, e ficar pensando sobre tudo…
3. Quais são os seus temas favoritos?
Os críticos em geral dizem que eu escrevo com uma visão crítica, sobre temas como a rebeldia, o combate ao autoritarismo, a ética, a fome de justiça… Mas do meu ponto de vista não é bem assim: eu acho que cada vez estou querendo contar uma história diferente, acontecida comigo mesma ou com gente que eu conheço, e transformada pelas coisas que eu sonho ou imagino a partir daí.
4. Qual o ponto de partida para o que você escreve?
Do meu ponto de vista, eu escrevo sempre a partir de duas coisas: o que eu lembro e o que eu invento. Memória e imaginação são as duas grandes fontes do que eu faço.
5. Como é que você escolhe seus ilustradores?
Muitas vezes quem escolhe não sou eu, são os editores. Mas alguns aceitam que eu dê palpites. Nesse caso, eu tento escolher aqueles com quem eu tenho mais afinidade, ou cujo trabalho eu admiro, e que sejam bons de trabalhar. Quer dizer, conversem comigo, leiam o livro com atenção, se disponham a trocar idéias e cumprir prazos.
6. Você também é pintora. Por que nunca ilustrou um livro seu?
Porque eu acho que pintura e ilustração são duas coisas completamente diferentes. Uma pintura tem apenas que resolver problemas visuais que ela mesma inventa a cada vez. Uma ilustração, como o nome está dizendo, tem que dar um lustre, um brilho, lançar uma luz sobre algo que está escrito. Tem que ser narrativa também. E o tipo de pintura que eu faço não é narrativo. Acho muito mais difícil ilustrar do que pintar, e eu não tenho capacidade para isso.
7. Que mensagem você gostaria de mandar para seus leitores?
Antigamente eu dizia que quem tem que mandar mensagem é telegrafista. Hoje diria que é a Internet. Um escritor não tem que se preocupar com mensagens. Tem que contar uma boa história, de uma maneira interessante, com surpresas de linguagem, e criar um livro que divirta, faça pensar e fique na lembrança do leitor de alguma maneira, dando vontade de reler ou relembrar de vez em quando.
8. O que a levou a escrever para crianças?
Eu já escrevia para adultos e sabia que "tinha jeito" para escrever. Conhecia muito bem a língua (era professora de português), estava começando a trabalhar numa tese de doutorado sobre Guimarães Rosa. Quer dizer, língua e literatura eram meu elemento. Por que não para crianças também? Não vi nenhum motivo para excluí-las de minha preocupação estética com o uso da linguagem, terreno onde sempre me movi. Então somei, ampliei, e incluí a criança nessas minhas vivências da arte da palavra.
9. Como é a sua rotina de trabalho?
Escrevo o tempo todo, não só quando estou diante do papel ou do computador - esse é só o momento final, em que as palavras saem de mim e tomam forma exterior. A minha criação é assim, um processo meio mágico, que a gente não sabe de onde vêm nem como se desenrola. Procuro merecer, estar pronta, criar condições. Essas condições passam por trabalho e disciplina. Em geral, escrevo todo dia, sempre de manhã, quanto mais cedo melhor. Sem interrupções de fora. E com possibilidade de uma vista agradável, quando levanto os olhos da página.
10. Você foi uma das pioneiras, no Rio de Janeiro, na criação de uma livraria voltada para o público infanto-juvenil. O que aprendeu dessa experiência?
Criei a Malasartes em 1979 e vendi a minha parte em 1996. Durante esse período, descobri que acaba se tornando impossível tentar compatibilizar as duas coisas. Um escritor é um artista, tem que ser livre. Um livreiro é um comerciante, tem que dar sempre razão ao freguês.
11. Qual foi o primeiro livro que você escreveu?
O meu primeiro livro foi para adultos, em 1976 - Recado do Nome. Em 1977, veio o primeiro infantil, Bento-que-bento-é-o-frade, saído quase ao mesmo tempo que os três volumes das "Histórias de Recreio", reunindo alguns dos contos publicados na revista, sob os títulos Camilão, o Comilão, Severino Faz Chover e Currupaco Papaco. Hoje, novamente desmembrados nas doze histórias originais que constituem doze livros, eles estão sendo publicados pela Editora Salamandra, na Coleção Batutinha.
12. Seus livros foram traduzidos em diversos idiomas para vários países. Como ficam os valores e referências mais regionais, explorados por você nos textos, no caso dessas traduções?
Não sei bem. Toda tradução sempre perde muita coisa, por melhor que seja. Mas quando é boa, pode ganhar outras, por ser uma recriação. Alguns dos autores que mais me fascinaram na vida (de Cervantes a Garcia Marques, de Shakespeare a Camus) tinham valores regionais muito fortes, mas nem por isso deixaram de ser universais.
13. Dos livros que você escreveu, qual você gosta mais?
Taí uma coisa que não existe. Acho que livro é que nem filho, a gente gosta de todos igualmente com muita intensidade, mesmo sabendo que cada um tem características diferentes do outro.
14. Tem algum que você gosta menos, ou não gosta?
Já teve muitos, mas eu não publiquei. Para isso existe lata de lixo.
15. Qual o livro mais difícil que você já escreveu? E o mais fácil?
Na verdade não dá para responder objetivamente a essas duas perguntas. Depois que passa o momento de escrever o que fica é só a memória desse momento, que pode não corresponder a verdade. Eu lembro que um dos mais difíceis, entre os infantis, foi "Um Avião e uma Viola", que só tem uma linha por página. Os primeiros da série Mico Maneco também foram muito difíceis, por trabalharem com um repertório de sílabas muito limitado. Entre os de adulto, dois foram especialmente difíceis: "Tropical Sol da Liberdade", por ter me lançado numa profundidade de dor para a qual eu não estava preparada, e "E o Mar nunca Transborda", pelo intenso trabalho de pesquisa e recriação de linguagem que ele exigiu. Fácil, nenhum é.
16. Alguma história que você escreveu já aconteceu de verdade?
Quase todas. Mas sempre muito misturadas com outras que não aconteceram.
17. Qual a sua relação com a escritora Ruth Rocha?
Eu sou a mais velha de onze irmãos e acho que sempre quis ter uma irmã mais velha. Quando casei com o irmão da Ruth, compreendi que tinha ganho essa irmã tão desejada. Até hoje continuamos muito amigas e o fato de termos posteriormente começado a escrever na mesma revista só nos aproximou.
18. Como é a sua relação com seus pequenos ou grandes leitores?
Eu costumo dizer que o maior prêmio de um escritor é um bom leitor. Um leitor que entende, qualquer que seja a sua idade, é um presente. E quando ele entende, não confunde a relação com o livro e a relação com uma pessoa. Para mim, o importante é que meu leitor se aproxime do que eu escrevo, e não de mim. Muitas vezes a pessoa física do escritor pode atrapalhar o contato com a obra. Uma coisa que me preocupa muito nessa esfera é não ser injusta, não privilegiar um leitor em detrimento de outro. Se eu começar a conversar muito com um, como vou fazer para conversar igualmente com todos os outros? Só através do livro, que é justo e democrático. Mas adoro quando o leitor se manifesta.
19. Que tipo de livro você mais gosta de ler?
Qualquer livro bem escrito. Devoro romances e ensaios, leio e releio poesias.
20. Como você escolhe o título dos seus livros?
Quase sempre o título é a última coisa. Com muita freqüência o livro fica pronto e eu não sei como ele vai se chamar. Muitas vezes depois do título escolhido eu percebo que de alguma forma esse título já estava escondido dentro do livro, de tantas referências que havia pelo meio do texto. Mas não é uma coisa que eu tenha facilidade em decidir. Vivo me dizendo que um dia eu vou fazer um livro que tenha como título uma palavra só, mas nunca consegui.
ALGUNS LIVROS DA AUTORA
Recado do nome
Alice e Ulisses
Tropical sol da liberdade
Canteiros de Saturno
Aos quatro ventos
O mar nunca transborda
Esta força estranha
A audácia desta mulher
Contracorrente
Para sempre
Texturas
Como e por que ler os clássicos universais desde cedo
Palavra de Honra
Leitores iniciantes
Primeiras histórias
Leitores com alguma habilidade
Livros de capítulos
Teatro e poesia
Informativos
Histórias e folclore
Alice e Ulisses
Tropical sol da liberdade
Canteiros de Saturno
Aos quatro ventos
O mar nunca transborda
Esta força estranha
A audácia desta mulher
Contracorrente
Para sempre
Texturas
Como e por que ler os clássicos universais desde cedo
Palavra de Honra
Leitores iniciantes
Primeiras histórias
Leitores com alguma habilidade
Livros de capítulos
Teatro e poesia
Informativos
Histórias e folclore
Biografia
Na vida da escritora Ana Maria Machado, os números são sempre generosos. São 33 anos de carreira, mais de 100 livros publicados no Brasil e em mais de 17 países somando mais de dezoito milhões de exemplares vendidos. Os prêmios conquistados ao longo da carreira de escritora também são muitos, tantos que ela já perdeu a conta. Tudo impressiona na vida dessa carioca nascida em Santa Tereza, em pleno dia 24 de dezembro.
Vivendo atualmente no Rio de Janeiro, Ana começou a carreira como pintora. Estudou no Museu de Arte Moderna e fez exposições individuaise coletivas, enquanto fazia faculdade de Letras na Universidade Federal (depois de desistir do curso de Geografia). O objetivo era ser pintora mesmo, mas depois de doze anos às voltas com tintas e telas, resolveu que era hora de parar. Optou por privilegiar as palavras, apesar de continuar pintando até hoje.
Afastada profissionalmente da pintura, Ana passou a trabalhar como professora em colégios e faculdades, escreveu artigos para a revista Realidade e traduziu textos. Já tinha começado a ditadura, e ela resistia participando de reuniões e manifestações. No final do ano de 1969, depois de ser presa e ter diversos amigos também detidos, Ana deixou o Brasil e partiu para o exílio. A situação política se mostrou insustentável.Na bagagem para a Europa, levava cópias de algumas histórias infantis que estava escrevendo, a convite da revista Recreio. Lutando para sobreviver com seu filho Rodrigo ainda pequeno, trabalhou como jornalista na revista Elle em Paris e na BBC de Londres, além de se tornar professora em Sorbonne. Nesse período, ela consegue participar de um seleto grupo de estudantes cujo mestre era Roland Barthes, e termina sua tese de doutorado em Linguística e Semiologia sob a sua orientação. A tese resultou no livro "Recado do Nome", que trata da obra de Guimarães Rosa. Mesmo ocupada, Ana não parou de escrever as histórias infantis que vendia para a Editora Abril.
A volta ao Brasil veio no final de 1972, quando começou a trabalhar no Jornal do Brasil e na Rádio JB - ela foi chefe do setor de Radiojornalismo dessa rádio durante sete anos. Escondida por um pseudônimo, Ana ganhou o prêmio João de Barro por ter escrito o livro "História Meio ao Contrário", em 1977. O sucesso foi imenso, gerando muitos livros e prêmios em seguida. Dois anos depois, ela abriu a Livraria Malasartes com a idéia de ser um espaço para as crianças poderem ler e encontrar bons livros.
O jornalismo foi abandonado no ano de 1980, para que a partir de então Ana pudesse se dedicar ao que mais gosta: escrever seus livros, tantos os voltados para adultos como os infantis. E assim foi feito, e com tamanho sucesso que em 1993 ela se tornou hors-concours dos prêmios da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ). Finalmente, a coroação. Em 2000, Ana ganhou o prêmio Hans Christian Andersen, considerado o prêmio Nobel da literatura infantil mundial. E em 2001, a Academia Brasileira de Letras lhe deu o maior prêmio literário nacional, o Machado de Assis, pelo conjunto da obra.
Em 2003, após quatro meses de uma campanha trabalhosa, Ana Maria teve a imensa honra de ser eleita para ocupar a cadeira número 1 da Academia Brasileira de Letras, substituindo o Dr. Evandro Lins e Silva. Pela primeira vez, um autor com uma obra significativa para o público infantil havia sido escolhido para a Academia. A posse aconteceu no dia 29 de agosto de 2003, quando Ana foi recebida pelo acadêmico Tarcísio Padilha e fez uma linda e afetuosa homenagem ao seu antecessor.
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